Em 2025 celebramos os 150 anos da imigração italiana no Brasil e no Rio Grande do Sul. Um marco que nos convida a refletir sobre o papel essencial dos migrantes na construção da identidade, da cultura e do desenvolvimento do nosso Estado.
As famílias italianas enfrentaram dificuldades imensas quando aqui chegaram. Vinham com esperança e, aos poucos, criaram raízes, cultivaram a terra, formaram comunidades e deixaram um legado que atravessa gerações: da culinária à religiosidade passando pelo trabalho e o senso de coletividade.
Olhar para essa trajetória é reconhecer que a história do Rio Grande do Sul é, antes de tudo, uma história de migrações. Grande parte da força que nos tornou um estado produtivo, diverso e culturalmente rico nasceu da coragem de quem cruzou o oceano, ou uma fronteira, em busca de um novo começo.
Migração: valor atual e estratégico
Celebrar o passado é mais do que apenas relembrar: é reafirmar valores. Ao homenagearmos a imigração italiana, reafirmamos que a migração precisa continuar sendo vista como um elemento importante do nosso desenvolvimento.
No entanto, hoje vivemos uma contradição: ao mesmo tempo em que nos orgulhamos de nossas origens migrantes, assistimos ao crescimento do preconceito contra quem chega de fora. Esquecemos que todos nós somos descendentes de migrantes — e que a mobilidade humana sempre esteve no centro do progresso.
Além disso, há neste debate um dado fundamental: a migração é uma alternativa estratégica para o futuro do Rio Grande do Sul. Vivemos uma transição demográfica acelerada. Somos o estado mais longevo do país: dois em cada dez gaúchos têm mais de 60 anos. Em 2033, serão três em cada dez. Ao mesmo tempo, muitos jovens gaúchos deixam o estado em busca de oportunidades fora daqui.
Esse quadro provoca um desequilíbrio evidente: estamos perdendo força produtiva. E isso exige planejamento, visão de futuro e políticas públicas consistentes.
Migrantes de hoje: esperança renovada
A migração, quando acolhida com responsabilidade, é uma das formas mais eficazes de renovar o capital humano, revitalizar comunidades e fortalecer a economia local. Os migrantes de hoje, vindo de outras regiões do Brasil e também de fora do país, carregam o mesmo desejo dos italianos de 150 anos atrás: trabalhar, viver com dignidade e pertencer a um lugar que possam chamar de seu.
Cabe a nós, enquanto sociedade e Estado, criar as condições reais para que esse pertencimento aconteça: com inclusão, oportunidades e respeito. Isso requer estrutura, mas também empatia e compromisso com a justiça social.
Políticas públicas com foco em acolhimento
O governo do Estado atua de forma intersetorial para qualificar o atendimento à população migrante. Desde o acesso à documentação e aos serviços de assistência social, passando pela saúde, educação e qualificação profissional, trabalhamos para que seja um processo de integração e valorização.
A migração não é uma ameaça. É uma possibilidade concreta de enfrentarmos desafios estruturais como o envelhecimento populacional, a evasão de talentos e o esvaziamento de determinadas regiões.
Respeitar o passado, cuidar do presente, semear o futuro
Celebrar os 150 anos da imigração italiana é reconhecer a força da diversidade que move nosso Estado. É lembrar que desenvolvimento não se faz apenas com estradas e máquinas, mas com gente. Gente que planta, que sonha, que contribui, que transforma.
Viva a imigração italiana! Viva os migrantes que chegam hoje ao nosso território! Que possamos olhar para a história com orgulho e para o presente com empatia, garantindo que o Rio Grande do Sul continue sendo um lugar de acolhida, oportunidades e dignidade para todos.
Artigo publicado originalmente no Jornal Diário de Santa Maria, em 8 de julho de 2025.