Por Beto Fantinel
Mais que um líder religioso, Francisco foi um exemplo vivo de coerência entre
palavra e ação. Um homem que olhava nos olhos, que escutava com o coração e que abraçava com a alma. Falava com os pés no chão e, mais que isso, caminhava ao lado dos que mais sofrem. Ele não apenas pregou a paz, a
justiça, a compaixão – ele viveu cada uma dessas palavras.
Seu pontificado foi marcado não apenas por discursos, mas por gestos
concretos que revelaram seu compromisso com os valores cristãos mais
profundos. Além de nos ensinar sobre humildade, compaixão, cuidado com o
próximo e responsabilidade com a criação divina, Francisco viveu tudo isso. E,
por isso, sua partida comoveu o mundo.
Simplicidade que aproximava
Um Papa que jamais se distanciou das pessoas: ao recusar trono de ouro,
dispensar pompas e preferir o contato direto, se comunicava com bom humor,
frases simples e olhar atento à realidade. Francisco aproximou-se não apenas
dos fiéis, mas de todos que encontraram nele uma expressão verdadeira de
humanidade. Mesmo quem não era católico sentiu a perda como pessoal. Isso
mostra o quanto Francisco ultrapassou barreiras institucionais e, naturalmente, tocou corações.
A voz dos que não têm voz
A preocupação e o cuidado com os mais humildes foi uma das marcas mais
profundas de seu pontificado. Denunciou desigualdades, clamou por justiça
social e deu visibilidade às periferias do mundo. Francisco mostrou que liderar
é, antes de tudo, servir. Que a verdadeira grandeza está em colocar os outros
no centro da atenção e das nossas escolhas.
Um cristianismo que protege a criação
Em sua encíclica Laudato Si’, publicada em 2015, Francisco foi além: afirmou
que “o meio ambiente é parte da criação divina” — portanto, respeitar e cuidar na natureza é parte da fé cristã. Chamando à responsabilidade coletiva, abordou a crise ambiental, criticou o consumismo e o desenvolvimento irresponsável, ressaltou a importância de todos os seres e fez um chamamento a todos os fiéis para “cuidar da casa comum”.
Um peregrino da esperança
Em ano de Jubileu, que celebra a renovação, o perdão e a reconciliação, a
mensagem de Francisco fica ainda mais clara, como um convite a uma jornada de fé, esperança e amor. Este tempo de restauração espiritual nos convoca a refletir sobre nossos caminhos, nossa fé e sobre o que estamos deixando para os que virão depois de nós. Que possa o exemplo de Francisco nos inspirar a renovar o sentido da nossa vida, não apenas individualmente, mas como sociedade.
Uma despedida coerente com a vida
Até no adeus, Francisco foi fiel à sua essência. Pediu por uma cerimônia
simples, sem ostentação, e que fosse enterrado em um túmulo simples, com
apenas uma palavra gravada na lápide. Uma atitude que resume tudo o que foi: um homem que soube ser gigante na simplicidade.
Sua partida nos convida à reflexão: como estamos enfrentando a vida real,
com seus desafios e urgências? Francisco nos mostrou que a liderança mais
poderosa é a que nasce da empatia, da escuta e da disposição de servir.
Que o legado de Francisco não fique restrito à história da Igreja. Que sirva para inspirar líderes de todas as esferas a promoverem uma sociedade mais
fraterna, justa e pacífica. Que nos lembre, todos os dias, que a verdadeira
força está na simplicidade. E que ser cristão é, sobretudo, viver com coragem, coerência e esperança.
*Coluna publicada no jornal Diário de Santa Maria